PICAMILHO
“- Sacho piqueno pra cabar o milho, sacho piqueno pra cabar o milho, sacho piqueno…”
- Ó Humberto, onde vais?
- Vou à minha mãe, o meu pai mandou-me lá.
“- Sacho piqueno pra cabar o milho, sacho...”
Uma pedrada, não lhe acertou, era um lagarto saroto, verde, esgueirou-se para a parede.
- Ao vir, não me escapas!
Ao Forno do Tijolo, os cães dos ciganos vieram-lhe ladrar, levantou o pau que trazia na mão.
- Sssssssscht! Sssssssscht!
- Cucho! Cucho!
Os ciganos chamaram os cães, que a muito custo lá obedeceram.
“- Sacho piqueno pró milho, sa…”
- Parece-me que não era isto!
Ao Tapado teve que se encostar à parede para passar o carro dos bois do sr. Avelino da Veiga.
- Onde vais, rapaz?
- Vou à minha mãe, mandou-me o meu pai.
Agora é que eram elas, já não se lembrava do nome.
“…pró milho, não! Do milho, não!...”
- Já as aboco! Não me lembro…
Ficou no patim à entrada da porta.
- Que foi?
Mouta carrasco. Que é que havia de dizer?
- Tu não ouves? Onde está o teu pai?
Escondeu a cara nos braços cruzados.
- Oh meu filho, aconteceu alguma coisa?
A mãe começava a ficar aflita, puxou-lhe pelos braços.
- O que foi?
- Oh minha mãe, o meu pai mandou-me buscar uma coisa, mas já não me lembro.
- O que era?
- Não me lembro. Era... Era... pró milho.
- Pró milho? Milho o quê? Tu não estás bô. Qual milho? O milho é p’rás pitas.
- Já me lembro! Era.. pica milho, picar o milho…
- O quê?
- Sim, pica milho, para picar o milho..
A mãe riu-se e entregou-lhe um sachinho pequeno. O homem tinha ido cabar o milho, mas como ainda estava pequeno, o sacho que tinha levado era grande demais, não era para este serviço.
- Vai lá meu filho, o teu pai quer é um sacho pequeno para cabar o milho.
Ao jantar, contou ao homem o que se tinha passado, ele riu-se e virou-se para o filho:
- Manuel, amanhã voltas comigo para o pica milho!
O garoto, zangado, virou a cara para o lado. Não lhe encontrava graça nenhuma, ainda por cima era pouco longe!... Era, o tal Picamilho!...