<p><strong>O Galo do Lipolde</strong></p> <p>No banco de pedra não havia mais lugares. Na canelha, o tio Alberto esfolava um cordeiro encomendado, os cães com um olho no cordeiro e outro nas mãos dos homens observavam.</p> <p>No soto do Tio Américo, as mulheres compravam atum e botões. Nas “estorneiras” do tanque um cântaro vazava depois de cheio, os burros bebiam ao som do assobio do dono. Aproximava-se o descanso raro e curto.</p> <p>Numa burra esgalgueirada e faminta aproximava-se do café do Chico Humberto o Acácio, alegre e confiante, desmontando a custo do enorme animal, projetou a caixa de graxa sobre a terra.</p> <p>Após a difícil apeadela, informou de imediato os presentes que estava pouco tempo, que ainda teria que dar a volta domingueira que passava pela deslocação a Vale Frechoso e Trindade para recolha de sapatos para arranjo.</p> <p>Nunca a terra tinha visto um engraxador naquele local nem o mesmo Acácio o teria imaginado, mas a verdade é que ali estava para engraxar e meter tombas num sapato mais desgastado.</p> <p>A surpresa depressa passou a benefício e mais depressa a deceção. O Acácio nunca tinha metido uma tomba na vida dele, e após o serviço, o dono do sapato nunca mais lá conseguia meter o pé, porque o espaço ficava reduzido a metade.</p> <p>Morava neste período glorioso da sua existência num casebre de um familiar nos arrabaldes do “povo”, onde recebia fascinado alguns amigos em noites que motivavam a sua resistência à vida, tinha nesse local algumas galinhas.</p> <p>Onde era senhor um galo majestoso e imponente de cor pedrês, acontece que o Acácio fascinado pelo convívio que nunca tivera na sua intrigante resistência e existência, pensou em criar novas “pitas“, esperou placidamente o nascimento das referidas crias, mas inadvertidamente os ovos não eclodiam e ficavam podres, consultou os entendidos da terra e todos lhe diziam ser impossível, após visitarem e verem o enorme e confiante galo pedrês.</p> <p>“Tens que por ovos num sítio fresco”, “não podes guardar os ovos muito tempo”, “se calhar não esperas o tempo suficiente”, afirmações destas não convenciam o Acácio, que fazia exatamente com mandam as regras e lhe tinha ensinado a Tia Imperatriz.</p> <p>Desconfiado, chamou um entendido na galadeda, e após inúmeras observações da maneira com o imponente pedrês amassava sob o seu enorme ventre as mansas amantes, concluíram que o mesmo dito galo sofreria de impotência, uma vez que o ato era praticado mas não existiam resultados do mesmo.</p> <p>Contado numa noite de excessos, foi risota geral de que afinal o Pedrês do Acácio era o que não deveria ser.</p> <p>Infortúnio do mesmo, numa noite de invernia, onde os sobreiros deixavam escorrer pela sua rama rios de água, molhávamos nós o pão num arroz de cabidela do dito cujo, rindo-nos da desgraça do galo e o Acácio ria-se também, mas de felicidade estampada na cara dele e dos presentes.</p>