Os bois eram valentes! Mas aquela carga…
Pronto, estava dito, estava dito! Rais parta na gola. A mulher é que tinha razão.
- És goludo!
- Está calada!
E agora ali ia ele, com aquela carga medonha. Os bois, coitados, a descer iam quase sentados.
“- Rais parta na vida!” E era perto, era! Sempre mau caminho e fragas.
A descer para os Lameiros do Monte, ainda pensou dar a volta, mas já ali estava.
Os bois escorregavam nas fragas gastas por tanta passagem, o eixo do carro podia partir-se a qualquer momento. Às vezes um boi estava quase um metro mais alto que o outro, e o carro então nem se fala, mas o peso aqui ajudava e evitava que o carro se virasse.
Ele conhecia bem o caminho e já estava a pensar nas Chãs. Aí é que ia ser o diabo, tinha que arroussar para dar a volta.
Também não entendia. Tanta pedra para ali, e que diacho é que tinha aquela pedra de diferente? Porque tinha lá uns riscos, que dizem que foram os antigos que os fizeram… E depois? Uns riscos!...
Ninguém entendia os ricos, mas eles é que mandavam. E se não se atrevesse, quando começasse a decrua iam para lá outros e ele ficava em casa a pão e água, se calhasse!...
Às Chãs, deu com o Arménio Nório a cabar os feijões.
- À rapaz! Onde vais com tamanha carga? Coitados dos bois!
- Eles aguentam! Vou ali para o cabeço, a senhora quer lá esta pedra, que é que havemos de fazer? É trazê-la!...
- Tanta fraga que aqui há! E é preciso trazer essa do povo?…
- Que é que queres? Ela é que manda… diz que é por causa dos riscos que tem, diz que é dos antigos.
- Manias!
- Diz que não é bem por ela, mas pela morgada, a menina Maria Martins, parece que gosta destas coisas antigas, dizem que está prometida a um da alta e que quer fazer para aqui não sei o quê.
Lá fica atão, o Cabeço Maria Martins!