MONTEIRO
- Quem é?
- Quem sabe? Diz que é da serra...
- Dizem que se chama Monteiro!
- Monteiro? Não conheço!
- Diz que é filho do falecido homem dela. Agora, que ele morreu, soube-se que deixou uma terra lá para baixo a esse tal filho. Lá para baixo, antes de chegar à Regada. É o que dizem…
- Diz que ninguém sabia, nem a viúva. Só quando o padre Alípio lhe foi dar a extrema-unção é que ele confessou: que não queria ir para o outro mundo com esse remorso.
- Ela é que não gostou! Diz que o padre até teve que se inquietar com ela; já nem lhe queria fazer o velório em casa, queria-o levar para a capela do cemitério.
- Diz que ela ainda foi a Vila Flor e que sim! Estava escrito que essa dita terra era para um filho que ele teve doutra mulher, esse tal que aí está.
- Mas veio um que diz que é cunhado dele, e contou a história….
- Diz que são para lá do Marão; que esse tal Diocleciano, o pai deste Monteiro, era de famílias pobres e se tomou de amores por uma filha de um grande proprietário lá da terra. Os pais da rapariga não queriam que ela namorasse com ele, ainda por cima ela até já estava prometida, mas um dia desapareceram os dois.
- Diz que foi um grande alarido. O pai da rapariga, que era de posses, até ofereceu uma recompensa a quem os encontrasse. Não foi preciso, passados três ou quatro dias apareceram mortos de fome e cheios de medo. O pai da rapariga chamou as autoridades e parece que quando o levavam para o Posto, ele conseguiu-se raspar; andou fugido anos lá para o Porto, ninguém sabia dele; quando sossegou o barulho, passou lá na terra e soube que ela tinha tido um filho dele; a mãe dela teve um grande desgosto. Meteram-na num convento, foram os avôs que criaram o garoto. Entretanto os avós morreram e a mãe dele também morreu no convento, de uma malina que lhe deu.
- Diz que o tal Monteiro que aí está, quando se casou, já homem, quis saber do pai, mas sem querer falar com ele. Os primos da parte do pai que viviam lá na terra, lá lhe indicaram onde ele podia estar e parece que um dia se encontraram na feira de Mirandela. Parece que não foi fácil a conversa, mas lá se entenderam e o Diocleciano lhe terá dito que à sua morte ele herdava.
- E pronto, aí está ele.
- O resto já sabes: o Diocleciano apareceu cá, era bom serrador e depressa começou a trabalhar. Agradou-se da Dolores e pronto, casaram. O pai da Dolores já tinha uma ou duas leiras e depois compraram mais uma ou duas. Uma foi essa tal que vai agora para o filho que apareceu, mas a Dolores nunca desconfiou de nada e ele também nada lhe disse. E pronto, foi assim.
- Agora, segundo o cunhado, o rapaz não tem intenção de cá viver e parece que até já fez negócio.
- Ouvi o Compra-Tudo a dizer para o Germano: “- Já comprei a terra do Monteiro, se a quiseres semear são três rasões.”