ENXEMEIA
- Homesta!
- Donde é que apareceu este inzinal?
No dia anterior tinha sido mordido por três ou quatro abelhas; primeiro até lhe pareceram abésperas, mas depois viu um enxame.
Até os bois teve que desviar para não serem picados, mas agora estava a ver que não conseguia lavrar a terra; eram mais de cinco enxames.
Voltou para o povo com a ideia de, pela tarde, lhes chegar o fogo. Ao passar à Lavandeira voltou a encontrar o Fernando Pomba, ainda há pouco tinha passado por ele.
- Já? Não lavraste?
- Sabes lá o que me aconteceu! Ia lavrar aquela terra dos castanheiros, parece uma enxemeia, está cheia de abelhas até parece que andaram ali a enxemear a terra de abelhas. A ver se logo pela fresca lá vou queimar aquilo, para poder lavrar. Já ontem tinha algumas, mas hoje parece que andaram a enxemeá-las.
O Fernando, que tinha andado lá para as beiras do Douro, avisou-o:
- Olha que não, isso dá bom mel e vende-se, vale mais do que o cereal, apanha-as e mete-as nos cortiços; ficam lá à borda da terra e dão rendimento, e ali é bom sítio, abrigadas e viradas para nascente dá-lhe todo o dia o sol e é o sítio mais quente da terra. Não lhes falta onde pastar e tem água.
- Quero lá isso!
- Faz o que te digo.
- Então não lavraste? - era a mulher a perguntar. Lá lhe contou da conversa com o Fernando.
A Sebastiana sentiu ali ajuda.
O meu pai tem para aí umas cortiças que servem para isso, também não custa nada experimentar, ficam lá à borda e não prejudicam a terra.
- P’ra quê? E depois vende-se a quem?
- Logo se vê! Também se come, bom jeito nos dá, que as sobras são poucas e é de graça.
- Logo vejo.
Para o outro dia, as abelhas ainda lá estavam e pareciam-lhe ainda mais.
“- Parece que pariu aqui a galega!” Voltou ao povo e com a ajuda do sogro, pela tarde, meteu os enxames nos cortiços. Sete!
Em Maio tirou a primeira colheita e correu bem, tirou bastante mel.
Na venda de algumas peles ao peleiro:
- Você que anda por lá, sabe quem compra mel?
- Fique descansado, que lhe mando cá alguém.
Negócio feito, em Setembro a mesma faina; menos, mas também ajudou e sem gastos nenhuns.
- Oh mulher, parece que acertaste! É que temos aqui um verde!
Vamos mas é enxemear ainda mais a terra, rende mais do que o cereal e não tem gastos. As estevas, as gestras e as urzes dão-lhe alimento à discrição, a água não falta nos poços.
- Onde é que o Porfírio tem lá o tal mel?
- Diz que lhe chamam a Enxemeia…
- Mais uma novidade!