FIEITO DO GAGO
Sentiu-se molhado entre pernas, já não sabia se era do calor se do medo. Tinha visto passar o Acácio, e ainda lhe abanou a cabeça para que negasse.
Parecia-lhe que a marreca lhe tinha aumentado para o dobro e que pingava mais sangue do que o reco que o Serôdio matou para o patrão, que teve que lhe meter segunda vez a faca; também, ficou descartado.
- Não matas cá mais nenhum! Quem não sabe, não se mete nelas. Só me apetecia pôr-te a chiar como está a chiar o reco.
O Serôdio, nem preta nem branca.
E agora ali estava ele, borrado de medo, no Posto da Guarda. Tinha mais medo dos guardas do que do diabo e o patrão bem o avisou:
- Se sabes alguma coisa, diz! Senão, moem-te de porrada e eu ponho-te a andar.
E ele também tinha avisado o Acácio:
- Não esgalhes os chopos!
Que ninguém iria saber e que a pedoa ficava escondida até passar o alarido; ali, no meio daquele monte de fieitos, debaixo de uma fraga, ninguém dava com ela.
Voltou a avisá-lo:
- Eu não quero saber, as minhas ovelhas nem da rama comem!
E desandou. Logo ao chegar ao alto e o Manuel da Aninhas com a cria. Era primo do dono dos chopos.
Pensou logo, “- Está o fado armado, este já vai dizer ao primo”.
Mou dito, mou feito!
E agora ali estava ele, mas o Acácio que não tivesse ilusões, contava tudo o que sabia, que não era muito, mas porrada não queria levar.
- Próximo!
Sentiu um empurrão nas costas e entrou. Era uma sala pequena; um estava sentado e à frente dele com um cavalo-marinho na mão estava outro, que soube depois que era o cabo.
- Queres dizer já, ou queres experimentar o cavalo-marinho?
Abriu a boca, mas não saiu nada. Sentiu correr pelas pernas abaixo, formou-se uma poça de um líquido amarelado debaixo dos pés. Eles viram e riram-se.
- Não é preciso mijares-te, só dizeres onde está! Ou então, mijas sangue!
- Fifififififififififfieito!
- És gago?
- Siiiiiiiiiiii…
- Por esta não esperava eu! Então ouve lá, onde está escondida a pedoa?
- Nossss… Fiiiiiiiiiiiiiiii…
- Tem calma, já vi que queres ajudar, diz lá devagar.
- Nooooooooos… Fiiiiiiiiiiiiieieieieieitos!
- E foste tu?
- Nããããããããoo…
- Foi o que saiu agora?
- Siiiiiiiiim…
- Há lá fieitos perto dos chopos esgalhados?
- Siiiiiiiiiiiiiiiiiim!
- E a pedoa está lá escondida?
- Siiiiiiiiim!
- Entregas este envelope ao Sr. Regedor!
- Então onde estava a pedoa?
O cabo da guarda escreveu:
“A arma do crime está no meio de uns fieitos do gago”