No tempo em que Nossa Senhora andava por estes lados do mundo, passou alguns dias em Benlhevai. Um dia foi ali parra a Eirinha buscar duas pedras. Lá as trazia, e ao mesmo tempo ia cosendo uns panos para uma peça de roupa, se calhar fazendo uma baínha a uns coeirinhos para o Menino Jesus, que trazia ao colo. As duas pedras não eram bem pedras, eram duas grandes fragas, uma vez que trazia à cabeça o Penedo Redondo, e debaixo do braço uma fraga mais pequena. Vinha então por ali acima quando sentiu que estava a ser perseguida. Naquele tempo era assim, andavam sempre uns atrás dos outros, batiam-se, matavam-se com aquelas espadas enormes, roubavam o que lhe aparecia pelo caminho, era uma barbaridade.
Ao sentir que corria perigo apressou o passo, agarrando mais o seu Menino que trazia ao colo, mas nunca deixando de coser. A pressa era tanta que teve que deixar uma das fragas, a mais pequena, aquela que está mesmo junto ao caminho, ali onde é a casa do Rebelo, em frente à casa do senhor João Frutuoso (não dizemos João Velhinho porque o apelido dele é Frutuoso).
Deixou então ali aquela, ficou mais aliviada de peso, e continuou com a fraga do Penedo Redondo à cabeça. Apressou ainda mais o passo, e finalmente conseguiu chegar sã e salva ao seu destino. Pousou a fraga no chão, exausta, no sítio a que a partir daí se ficou a chamar Penedo Redondo, mesmo no momento em que os perseguidores já a estavam a agarrar.
Foi então que se ouviu um enorme estrondo. A fraga do Penedo Redondo abriu-se ao meio, viu-se lá dentro um abrigo suficiente para lá caberem Nossa Senhora e o Menino Jesus, para lá entraram, e acto contínuo a fraga fechou-se novamente e os bandidos ficaram cá fora paralisados de medo, para não dizer outra coisa.
Depois do estrondo veio o silêncio. Os bandidos fugiram, a poeira assentou, e só passado algum tempo é que a natureza se fez ouvir novamente. Os pássaros retomaram o seu canto, a brisa voltou a tocar a sua música, mexendo nas folhas das árvores, e a bicharada voltou a dar sinal que andava por ali.
A população de Benlhevai só passados alguns dias é que soube do sucedido, e o Penedo Redondo começou a ser local de peregrinação. Hoje em dia já deixou de ser local de culto, mas sabe-se que continuam lá Nossa Senhora e o Menino Jesus. Todos os anos, na passagem de 23 para 24 de Junho, à meia-noite da noite de S. João, ainda se pode ouvir dentro da fraga do Penedo Redondo o som dum tear. Nem todos o conseguem ouvir, é claro. É preciso encostar bem o ouvido e acreditar. Só os que sabem esta história e não duvidam dela é que têm esse privilégio.