Lendas e Historias

Lendas e Historias PT

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Zelha

O cabo do sacho enfiado no meio do molho de vime, suspenso sob o ombro esquerdo, obrigava a uma leve inclinação, para melhor manter o equilíbrio.

Ouvia-se ao longe o ladrar dos cães do gado, o calor apertava, o sol caía a pique; era a hora que ninguém desconfiava. Numa ida à feira de Mirandela, tinha passado e mirou o enorme monte de junça.

Agora, às costas com ela e o mais depressa que podia, tentava esgueirar-se dali.

Não sabia de quem era, não devia ser de ninguém do povo, que aquelas terras já pertenciam a Macedinho, mas fazia falta a todos e a ele também.

Os mosquitos de volta da cara não lhe davam descanso. Sentiu uma fraqueza e meio tonto, começou a perder a vista. Parou, abanou a cabeça e continuou a subida.

Começou a ouvir uma grande balbúrdia e um burro a zornar. Parou, vinha na sua direcção, mas não podia ser visto. Escondeu-se por detrás de umas fragas.

Não era um, eram vários burros. Eram os caldeireiros, homens, mulheres, crianças; eram ciganos que faziam cântaros, romeias, caldeiros, grabanos, púcaros, azeiteiras, candeias, lamparinas e dos restos das latas ainda faziam assobios para os garotos. Faziam tudo o que era de lata; o plástico ainda não tinha aparecido por estes lados. Deitavam pingos nos buracos que iam aparecendo, com o tempo e o uso. Traziam a casa às costas, roupa, panelas, pratos, e atrás deles, pitas, patos, cães, machos, burros e uma cabra. A casa deles era onde paravam, por isso traziam com eles tudo o que tinham.

Passaram e ele voltou ao caminho; sentiu tonturas novamente e uma dor fina e forte no meio do peito.

Avançou mais uns passos e encostou-se a um sobreiro à beira do caminho, sentiu-se deslizar sob o agressivo tronco e caiu desemparado no chão.

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- Onde foi?

- Ao vir de Macedinho, junto àquela zelha, antes de chegar à Tacinha.

O ti Amândio, mouco que nem uma porta:

- Ai foi na Zelha! Já o meu pai, no céu esteja, dizia que a madeira era rija, que dava boas traves e que havia por ali muitas.