Lendas e Historias

Lendas e Historias PT

(lire en français)

Valado

VALADO

A tosse dificultava-lhe o andar, cada vez se sentia mais fraco.

A tarimba também não ajudava, estava muito alta, encostada à trave mestra da loje, o que o obrigava a dormir sempre para o mesmo lado. Mas não a podia baixar, senão os bois batiam lá com os cornos.

A tia Delobina bem lhe punha os pegões. Aliviavam, era verdade, mas a falta de ar não demorava a voltar.

- Estás com má cara rapaz!

- A quem o diz…

Ele bem o sabia, mas tinha que andar, a srª Narcizinha era clara, quem não trabuca não manduca.

Era tudo dela, era assim o mundo, diziam, que ele o mais longe que tinha ido foi ao Cabeço. Também, que lhe interessava?

E a maldita da falta de ar agora vinha com dores no peito, nem as pernas queriam andar. A custo lá passou a Veiga, depois pelas Alminhas, tinha que chegar ao alto, para ver se via o fumo da fogueira dos azeitoneiros.

- Tenho que parar ali naquele lombo de terra.

- Aquilo não é um lombo! Lombo tem-no os burros! Aquilo é um valado que separa, neste caso, a Veiga e o termo de baixo, ouviste? Não é lombo, é valado!

-Sim senhor!

Que mais lhe dava que fosse valado ou valada, para ele era um alto, ora essa…

Raio do rico, ninguém lhe levantava os olhos, quando passava parecia que o vento passava, todo o homezum se levantava e tirava o chapéu:

- Boas tardes sr. Francisquinho.

Não respondia.

Dizia palavras que ninguém entendia:

- Valado pode ser uma vala, uma sebe ou uma elevação...

Queria lá saber!

E a dor que não passava. Ao tal Valado teve que parar, assomou-se e lá conseguiu ver um fio de fumo na Terra Grande, já sabia onde andavam os azeitoneiros.

- Então onde andam? - perguntou o Sr. Firmino, o capataz da casa.

- Na Terra Grande!

- Já lá foste?

- Vi-os ali daquele alto, a seguir à Veiga.

- Valado! Valado é o nome desse alto, se o patrão te ouve, levas que contar, olha que ele hoje parece que anda com os azeites.

O Sr. Francisquinho, o homem da srª Narcisinha, era esquisito. Ela é que mandava na casa e na lavoura, ele era caça e palavras que ninguém entendia, falava sem olhar para ninguém, parece que falava para o ar, o fidalgo!