Já publicámos o oitavo conto do Vítor, o “Fieito do Gago”, que pode ser lido na secção “Lendas e Histórias” da página de Benlhevai.
Há umas décadas atrás, no tempo desta história, vivia-se do que a terra dava. O termo de Benlhevai, tal como os das outras terras, estava cheio de cereal. Trabalhava-se todo o ano para tentar ter pão em casa, para não haver fome. Nem sempre se conseguia.
Para além disso, havia os rebanhos de ovelhas e algumas cabradas. Eram das casas ricas, que tinham terrenos para as apascentar, ou também de algumas casas remediadas, que tinham alguns terrenos seus e outros arrendados.
Cada pastor sabia onde podia andar, mas por vezes a sua “volta” não era suficiente para alimentar o rebanho. Então arranjava-se sempre forma de matar a fome às ovelhas: Umas bordas de ferrã aqui, outras de centeio além, uns feijões chícharos nalgum sítio com poucas vistas, uns ramos de choupo cortados em horas de calor, com toda a gente em casa, como foi o caso desta história.
Nesse tempo, as leis eram feitas à medida dos ricos, os donos das terras. O que a Guarda dissesse, era para ser feito. Ai de quem se opusesse! Ia para o “Posto”, levava porrada, dizia tudo o que os guardas quisessem. Era assim a vida dos pobres…
Antigamente a vida era muito difícil e muito sofrida, ainda na minha infância. Não havia pasto suficiente para os rebanhos, não havia lenha para as pessoas se aquecerem em casa; nem dinheiro para se comprar fósforos. De manhã, ia-se pedir uma brasa à casa de onde se via sair fumo, para com ela acenderem o lume. Isto para os jovens de agora é estranho, não é?
Artur José de Sousa Fernandes